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O Mito do Luto Mais Difícil, Por Que Comparar Experiências de Perda por Suicídio é Prejudicial

O Mito do Luto Mais Difícil, Por Que Comparar Experiências de Perda por Suicídio é Prejudicial

Nesse ano de 2024 completo 17 anos de luto pelo meu irmão Zoltán que morreu de suicídio em 5 de novembro de 2007. Por vezes quando penso nessa data me assusto o quanto tempo já se passou. No início parecia que o tempo se arrastava e agora me pergunto para onde foram todos os anos?

No início o meu luto foi muito solitário porque se hoje ainda se fala pouco sobre posvenção do suicídio, imaginem a 17 anos atrás. O termo posvenção não era conhecido no Brasil nem pelos profissionais de saúde! Isso deixava os sobreviventes enlutados por suicídio com a percepção de um completo isolamento e o tema como tabu.

Nos últimos anos temos falado cada vez mais sobre pósvenção e a situação dos enlutados por suicídio. Com o avanço da tecnologia, das redes sociais, os enlutados atualmente conversam mais e se reúnem em grupos de apoio para compartilhar seus sentimentos e suas histórias. Esses encontros são oportunidades importantes que quebrar o silêncio e diminuir o isolamento de quem vive esse luto diferente dos outros lutos, entretanto com mais interação começaram de forma mais intensa as comparações.

É comum ouvirmos que os pais da pessoa que morreu por suicídio, particularmente as mães, são os que têm o luto mais difícil. Será que isso é verdade? O que as pessoas consideram luto mais difícil? Me parece que como a sociedade muitas vezes fala que amor de mãe é o maior amor do mundo como consequência considera que perder um filho é a maior dor do mundo, especialmente se for por suicídio, e portanto deve ser considerado o luto mais difícil.

Ao longo dos meus quase 17 anos de luto por suicídio já conversei com muitos enlutados. Mães, pais, irmãs, irmãos, avós, avôs, amigos e até mesmo profissionais de saúde que tratavam de pessoas antes delas morreram de suicídio. O luto por suicídio provoca sentimentos complexos, como tristeza profunda, dor, raiva, negação, culpa, sensação de vazio, entre tantos outros.

Os enlutados passam por essa montanha russa de sentimentos misturados, sem fases e sem ordem estabelecida. Um dia podemos estar nos sentindo bem, com a sensação de que superamos, e de repente algo acontece e sentimos que somos lançados de volta nesse complexo de sentimentos.

De forma geral consideramos que cada pessoa é única, complexa em sentimentos e experiências de vida, então porque achamos que seus lutos são ou devem ser comparáveis?

Consideramos que cada história de vida que finalizou com suicídio teve múltiplas facetas e o suicídio teve múltiplas causas, então porque achamos que lutos decorrentes dessa perda são comparáveis?

Ao comparar lutos corremos perigo de em vez de unir separar em grupos menores os enlutados que já se sentem isolados mesmo sem essa divisão. Ao comparar lutos corremos perigo de causar ainda mais sofrimento nos enlutados por quantificar ou diminuir a dor e outros sentimentos que essa pessoa pode estar sentindo.

Em vez de disso seria melhor nos acolhermos e cuidarmos uns dos outros sem comparações. No dia em que eu estiver me sentindo melhor eu acolho quem está se sentindo pior e no dia em que eu não estou bem alguém me acolhe. Pode ser?

Virag Venekey - Depois do dia Z

Virág Venekey – Sobrevivente, enlutada pelo irmão – @depoisdodiaz

Compartilhe! Ajude as pessoas a encontrar esperança e compreensão e saibam que não estão sozinhas.

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