Estamos no mês de agosto, e, portanto, mais um Setembro Amarelo está chegando. No Brasil, a campanha do Setembro Amarelo começou em 2015, fruto da ação conjunta do CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com o objetivo de conscientizar sobre o suicídio, associando a cor amarela ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que ocorre em 10 de setembro.
Neste ano de 2024, completo 17 anos de luto pelo meu irmão Zoltán, que morreu por suicídio em 5 de novembro de 2007. Quando perdi meu irmão para o suicídio, não existia a campanha do Setembro Amarelo; nem mesmo o termo “posvenção” era conhecido no Brasil.
A Evolução do Setembro Amarelo: Da Iniciativa à Reflexão
Era uma época diferente. Se, atualmente, o suicídio ainda é um tema considerado tabu, imaginem há 17 anos. Naquela época, o enlutado por suicídio se sentia praticamente em completo isolamento, com poucas opções para conversar ou obter ajuda. Restava ao enlutado procurar os serviços de profissionais de saúde, o apoio emocional por telefone do CVV e alguns poucos grupos de apoio presenciais.
Não existiam grupos de apoio online, nem institutos dedicados especificamente ao tema do suicídio, e poucos ativistas ou voluntários falavam abertamente sobre o assunto. Ao longo desses anos, observei o surgimento da campanha do Setembro Amarelo, suas propostas de ajuda e de mudanças, e cada vez mais pessoas falando sobre saúde mental e a temática do suicídio. Então, o que mudou na vida do enlutado por suicídio com a campanha do Setembro Amarelo?
O Impacto do Setembro Amarelo na Vida dos Enlutados por Suicídio
Todo ano, o Setembro Amarelo chega, e o assunto do suicídio recebe grande foco na mídia. Durante todo o mês de setembro, a sensação é que o suicídio está em todos os lugares, sendo o assunto central de psiquiatras, psicólogos, escolas, empresas… Pessoas andam com lacinhos amarelos na roupa, vestem roupas amarelas, fazem caminhadas, e monumentos são iluminados com a cor amarela… Profissionais ligados à saúde mental e emocional já estão se preparando para as ações da campanha do Setembro Amarelo…
Fiquei praticamente uma década sem falar abertamente sobre a morte por suicídio do meu irmão. Foi apenas em 2017 que comecei a falar sobre o tema do suicídio de forma honesta, após iniciar um trabalho voluntário de apoio emocional. Com isso, inicialmente fiquei, de certa forma, empolgada com a campanha do Setembro Amarelo, esperançosa com a promessa de que, finalmente, o tabu em torno do suicídio estava sendo quebrado e de que a sociedade ia, aos poucos, se tornar mais empática com aqueles que estavam em sofrimento emocional e ideação suicida, bem como com aqueles que perderam alguém para o suicídio, os sobreviventes enlutados, como eu.
A Necessidade de Repensar a Campanha: Preocupações e Desafios
Entretanto, com o passar dos anos, a empolgação e a esperança com a campanha se transformaram em desconfiança, e atualmente oscilo entre a decepção e a preocupação com o efeito da campanha nas pessoas, especialmente nos enlutados como eu.
A campanha, de fato, ao menos durante o mês de setembro, trouxe mais atenção para o tema do suicídio, mas, com o domínio das redes sociais, cada vez mais pessoas estão se aproveitando da campanha para ganhar mais visibilidade. Influenciadores querem aumentar seguidores e fazem muitas postagens, mas não estudam, não se informam e acabam disseminando informações confusas ou erradas.
E, infelizmente, os problemas não se restringem apenas aos influenciadores. Profissionais de saúde e jornalistas igualmente compartilham frases de efeito com informações equivocadas, como “o luto tem fases” ou “90% dos suicídios podem ser evitados”. Com isso, todas essas pessoas, em vez de ajudar, estão na verdade causando ainda mais sofrimento emocional para quem está com ideação suicida e também para quem sofre por já ter perdido alguém para o suicídio.
A campanha do Setembro Amarelo está completando uma década, e acho que está mais do que na hora de repensá-la. Está fazendo algum efeito? Está realmente chegando às pessoas? Qual é o impacto da campanha nas pessoas? O que precisa mudar na campanha? E para você, que também é sobrevivente enlutado por suicídio? Como você está se sentindo neste período que antecede mais um setembro? Como é o Setembro Amarelo para você? Você acha que a campanha está surtindo o efeito esperado?
Virág Venekey – Sobrevivente, enlutada pelo irmão – @depoisdodiaz
1 comentário em “Setembro Amarelo: Reflexões de uma Sobrevivente sobre os Impactos da Campanha”
Aprendi bastante com as informações.