Somos eu e você que recebemos uma notícia que mudou o curso das nossas vidas.
Somos a dor que dilacera o coração.
Digo assim, pois muitas vezes esquecemos que não somos ela, nos fundimos a ela, nos agarramos na dor, porque muitas vezes ela nos sustenta.
Sustenta nossas lembranças, memórias, afetos.
Nos ajuda a manter nosso vínculo tão vivo. Ela suga nossas forças, mas às vezes dá uma trégua.
Somos aqueles que mesmo sem energia e sem qualquer explicação ouvimos as perguntas mais difíceis de responder.
Somos aqueles que temos que aprender a nos proteger dos que não sabem nos acolher.
Somos nós que enfrentamos críticas e julgamentos de como vivemos o nosso luto, que nos questionamos inúmeras vezes se poderíamos ter feito algo mais.
Sobrevivemos à dor, à angustia, aos questionamentos, aos julgamentos. Sobrevivemos a uma perda que atravessa a alma, uma dor difícil de cicatrizar.
Sobrevivemos ao acordar todos os dias, sem ter alguém que de repente partiu, a continuar com o mundo girando, trabalhando, lutando dia após dia, convivendo com a lembrança do ontem e a incerteza do amanhã.
Temos a dor da ausência que nos machuca, a saudade que nos conforta e a esperança que esse turbilhão de coisas vai passar.
Sobrevivemos a tudo isso, cada um de nós com as suas dificuldades, nossos próprios altos e baixos, aprendemos com eles… e como aprendemos. Aprendemos também que a vida cresce em torno da nossa dor, que não é preciso por fim ao luto, para sentirmos alegria de novo e que é possível dá vida à ausência de quem partiu.
Érica Santana – Sobrevivente enlutada – Fundadora da ABRASES
2 comentários em “Quem são os sobreviventes?”
Minha vida sempre foi regado por momentos difíceis, mas este que vivo hoje nem nos piores pesadelos imaginei viver. Tenho 3 filhos e o meu caçula de 34 anos, à 38 dias, resolveu me deixar, deixar sua esposa, suas filhas e suas irmãs.
Já retornei ao trabalho, quando volto pra casa parece que vou enlouquecer de dor. O que tem me confortado são os videos com depoimentos de pessoas que passam pela mesma dor.
Reflexões importantes, agradeço pelo artigo.