Mais um ano se iniciou e começou mais uma campanha do Janeiro Branco. Esse movimento se iniciou em 2014 e tem objetivo de chamar a atenção para a saúde mental como algo essencial para o bem estar das pessoas. O mês de janeiro foi escolhido por ser o primeiro mês do ano, período do ano em que muitas pessoas pensam sobre recomeços e novas metas de vida.
Como sobrevivente enlutada pelo suicídio do meu irmão não consigo deixar de pensar no significado da campanha do Janeiro Branco e o quanto me parece que está ligada a outra campanha que me afeta mais diretamente: a campanha do Setembro Amarelo que surgiu em 2015 e que objetiva chamar a atenção para a prevenção do suicídio.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde o suicídio geralmente está associado a diversas doenças mentais. Essa relação está acima de 90% segundo resultados de estudos sobre o assunto e os principais transtornos associados são depressão e transtorno bipolar. Os profissionais que estão mais diretamente ligados a transtornos mentais são psiquiatras e psicólogos e a campanha do Janeiro Branco foi criado por psicólogos.
O tema da campanha do Janeiro Branco em 2024 é “Saúde mental enquanto há tempo”. Esse tema me soa imediatamente como uma frase de alerta com uma mensagem oculta de que a pessoa deve se cuidar antes que o pior aconteça. E o que é esse pior? Adoecimento mental? Pensamento suicida? Afinal, como escrevi aqui antes, 90% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais.
Esse ano o Janeiro Branco está completando 10 anos e em 2025 o Setembro Amarelo também completará 10 anos. Para mim a pergunta importante a se fazer é se campanhas como Janeiro Branco e Setembro Amarelo estão atingindo os objetivos?
Durante a última campanha do Setembro Amarelo, em 2023, a ABRASES (Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio) lançou uma Carta Aberta a sociedade com diversos questionamentos e sugestões sobre o acesso a serviços de saúde mental no Brasil e a percepção e reações da sociedade a pessoas com transtornos mentais. A maioria dos questionamentos tem tudo a ver também com a campanha do Janeiro Branco.
Considerando tudo isso me parece que as duas campanhas, Janeiro Branco e Setembro Amarelo, são os dois lados de uma mesma moeda de questões de saúde mental. Portanto, ambas as campanhas só serão mais efetivas quando pensarmos sobre os mesmos questionamentos e resolvermos os mesmos problemas.
Será que devemos unir forças e interligar as duas campanhas para aumentar a efetividade?
Sinto que quando conseguirmos cuidar da saúde mental com sucesso estaremos prevenindo suicídio de forma mais efetiva e como consequência diminuiremos o número de enlutados por suicídio como eu e tantos outros.
Virág Venekey – Sobrevivente, enlutada pelo irmão (@depoisdodiaz) – Fundadora da ABRASES