Reflexão sobre a Campanha do Setembro Amarelo e prevenção do suicídio

Fim do Setembro Amarelo: E agora?

Introdução

Mais um mês de setembro acabou e com ele mais uma Campanha do Setembro Amarelo terminou. Mas o que realmente fica após os 30 dias de postagens nas redes sociais, palestras e laços amarelos espalhados por toda parte?

Como sobrevivente enlutada há quase 18 anos pela morte por suicídio do meu irmão Zoltán, acompanhei o nascimento e a evolução dessa campanha. E hoje me questiono: será que ela realmente está cumprindo seu papel de prevenir o suicídio?

A História do Setembro Amarelo no Brasil

No Brasil, a Campanha do Setembro Amarelo começou em 2015 pela ação conjunta do CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). O objetivo era conscientizar sobre o suicídio, associando a cor amarela ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que ocorre em 10 de setembro.

Vivi como sobrevivente enlutada antes da campanha existir e acompanhei sua transformação ao longo dos anos. A cada setembro que passa, mais pessoas parecem conhecer e divulgar a campanha. Mais profissionais realizam palestras, mais empresas promovem atividades relacionadas ao tema.

A Oficialização da Campanha em 2025

Em 2025, a Campanha do Setembro Amarelo foi oficializada pela Lei 15.199/25, publicada no Diário Oficial em 9 de setembro. A lei estabelece:

  • 17 de setembro como o “Dia Nacional de Prevenção da Automutilação”
  • 10 de setembro como o “Dia Nacional de Prevenção do Suicídio”

Porém, ao analisar a lei, já identificamos o primeiro problema. O termo correto deveria ser “autolesão”, e não “automutilação” — uma diferença importante que reflete a falta de aprofundamento técnico mesmo em documentos oficiais.

As Críticas dos Especialistas

Durante todo o mês de setembro de 2025, vimos nas redes sociais críticas consistentes à Campanha do Setembro Amarelo por diversos psicólogos especialistas em Suicidologia. E as razões são válidas.

Mais uma vez foram abundantes as postagens com:

  • Conteúdos sem o aprofundamento necessário
  • Frases de efeito vazias
  • Excesso de marketing amarelo
  • Venda de todo tipo de itens para brindes (pipocas, bombons, balões amarelos, broches)

Cheguei a ver até mesmo uma vendedora desejar um “Feliz Setembro Amarelo!”.

Fico pensando: quem fica feliz quando está em sofrimento mental cogitando suicídio? Como nós, sobreviventes enlutados, nos sentimos cercados por todo esse marketing que nos lembra constantemente do luto que estamos vivendo?

Quando a Campanha se Torna Apenas Marketing

A verdade difícil de digerir é que a Campanha do Setembro Amarelo se transformou em apenas mais um mês com uma cor específica. Um tema de campanha da vez a ser tratado superficialmente e, quando o mês acaba, a maioria das pessoas segue para a próxima campanha (Outubro Rosa, neste caso).

O tema só volta a ser levado a sério quando, infelizmente, alguém é atingido diretamente pela morte por suicídio de alguém próximo.

Prevenção do Suicídio Vai Além de Setembro

A prevenção do suicídio não pode ser limitada a 30 dias por ano. É um trabalho contínuo que exige:

  • Capacitação adequada de profissionais
  • Políticas públicas efetivas durante todo o ano
  • Apoio especializado aos sobreviventes enlutados
  • Discussões aprofundadas sobre saúde mental
  • Programas de posvenção estruturados

Na ABRASES (Associação Brasileira de Apoio aos Sobreviventes Enlutados por Suicídio), sabemos que o luto por suicídio não tem data para começar ou terminar. E a prevenção também não deveria ter.

Reflexões Finais: Há Esperança de Mudança?

Agora que a Campanha do Setembro Amarelo foi oficializada em lei, será que as pessoas vão levar mais a sério? A campanha tem chances de mudar e de fato ajudar a prevenir o suicídio? Essas são perguntas que deixo para você refletir. Como sociedade, precisamos ir além do marketing amarelo e do engajamento superficial nas redes sociais. Precisamos de ações concretas, conhecimento técnico e, principalmente, empatia genuína com quem sofre.

E você, o que pensa sobre isso?


Se você é um sobrevivente enlutado por suicídio, saiba que não está sozinho. A ABRASES oferece apoio e acolhimento. Conheça nossos grupos de apoio.

Se você está em sofrimento, ligue para o CVV (Centro de Valorização da Vida): 188 — disponível 24 horas, todos os dias.

Sobre a Autora

Virág Venekey é sobrevivente enlutada há quase 18 anos pela morte por suicídio do irmão Zoltán. Compartilha sua experiência no Instagram @depoisdodiaz para apoiar outros sobreviventes e promover reflexões sobre prevenção e posvenção.

Sobre o Co-Autor

Joseval Maximo é sobrevivente enlutada há mais de 8 anos pela morte por suicídio da filha Marina. Um dos idealizadores desse projeto Nomoblidis e fundador e atual Diretor Financeiro da ABRASES.

Compartilhe! Ajude as pessoas a encontrar esperança e compreensão e saibam que não estão sozinhas.

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