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A religião no luto por suicídio | ABRASES

A religião no luto por Suicídio

A religião no luto por suicídio

Qualquer que seja sua religião, talvez você perceba que o luto por suicídio mexe com suas crenças de algum modo. Nesse sentido a experiência de cada um é diferente. Depende de qual era sua relação, ou ausência de uma, com a religião. Depende também como as pessoas ao seu redor reagiram e usaram a religião nos seus comentários com você sobre o suicídio.

Para muitas pessoas existe a crença num Deus onipresente, mas então como ele permitiu que algo tão terrível acontecesse? Como Deus permitiu que uma pessoa tivesse tanta consciência sobre a morte e buscar ela como forma de aliviar seu sofrimento? A visão de um Deus moralista e julgador também se manifestam especialmente em algumas frases que nós sobreviventes enlutados por suicídio recebemos, como: “você acha que ele (ou ela) está no céu ou inferno?”. Além disso, em algumas religiões o suicídio parece ser o pior dos atos com consequências como “não ir para o céu” ou estar condenado a ir para o “vale dos suicidas”.

Questionamentos sobre o suicídio variam entre as religiões e todas condenam o ato em algum grau, porém alguns são mais acolhedores nesse sentido como o budismo, enquanto outros condenam de forma muito clara como o judaísmo. Para esse último se a pessoa morre por suicídio deve ser enterrado em local separado porque esse ato é considerado algo pecaminoso e por conta dele a pessoa vai ser responsabilizada na Corte Celestial. Em São Paulo mesmo existe uma ala separada no Cemitério Israelita do Butantã para o enterro das pessoas que morreram de suicídio.

Para algumas pessoas a religião passa a ser um conforto, um apoio. A igreja pode passar a ser um lugar de refúgio onde o enlutado está no silêncio, sem todas aquelas pessoas questionadoras ao seu redor. É também uma materialização física de um Deus como alguém que dá apoio, amor e paz. O enlutado encontra dificuldade em conversar, mas Deus está sempre lá para ouvir sem devolver perguntas questionadoras e assim o enlutado consegue se sentir acolhido em meio aos seus próprios questionamentos.

Os sentimentos que o enlutado por suicídio sente no luto são inconstantes e intensos. Esses variam enormemente e não seguem nenhum tipo de linearidade ou fases. Sabe-se que a religiosidade influencia o modo como as pessoas lidam com desafios na vida, como situações de estresse ou sofrimento, portanto podem impactar enormemente também o luto por suicídio. A religiosidade faz a pessoa refletir sobre questões existenciais como esperança e o sentido da vida, o que permite se conectar com a dor da pessoa que se foi e possibilita entendimento e maior aceitação do que ocorreu.

Considerando os nuances da religiosidade percebemos que ela pode impactar tanto positivamente, como negativamente, o luto por suicídio. O sobrevivente enlutado por suicídio poderá encontrar na religião uma experiência dolorida que o faz se sentir ainda mais solitário e isolado, mas poderá também vivenciar um acolhimento e compreensão que ajudam seu processo de luto. Como acontece também em outras áreas da vida do enlutado, o impacto da religião também vai depender das pessoas que compõem o grupo social, nesse caso religioso, onde o enlutado está inserido.

Virag

Virág Venekey – Sobrevivente, enlutada pelo irmão (@depoisdodiaz) – Fundadora da ABRASES

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