Mais um ano se encerrando… O final do ano para muitos parece encerramento de ciclos e começo de outros ciclos novos. O final do ano parece motivo para fazer novos planos ou refazer planos antigos, planejar o futuro e pensar em recomeços.
Mas e para nós sobreviventes enlutados para suicídio? Para nós de certa forma a vida nunca mais será a mesma depois que perdemos aquela pessoa querida para o suicídio.
Em muitos momentos eu penso que a tal da vida nova que muitas pessoas planejam para o ano novo é algo que para mim começou após perder meu irmão para o suicídio. Nunca mais encarei a vida, o futuro e meus planos da mesma forma. Por mais que tenha sonhos, planos de vida, lá no fundo algo me fala que a vida é imprevisível e que algo pode acontecer de uma hora para outra e mexer com todo meu planejamento. Esses pensamentos sempre me freiam de alguma forma e trazem racionalidade para qualquer sonho de vida, para qualquer planejamento.
Os especialistas em saúde mental falam que existe um tal de “síndrome de final de ano” que pode trazer sentimentos de melancolia, angústia e ansiedade em algumas pessoas. Ao refletirem sobre como foi o ano que passou, os planos que foram feitos, as expectativas que foram criadas, as pessoas podem se sentir frustradas com o que não foi alcançado.
Para os enlutados por suicídio a chegada do ano novo na verdade é apenas mais uma data que desperta ansiedade em relação ao futuro. Ansiedade por mudanças, ansiedade por querer conseguir recomeçar a vida de alguma forma mesmo estando em luto, ansiedade por querer sentir-se melhor, sem culpa e sem cobranças… Parece que o mundo coloca ainda mais cobranças na nossa vida com a virada do ano, não é? As pessoas têm expectativas de que estejamos melhores, que deixemos pra trás nosso luto, que comecemos um novo ciclo da vida junto com a mudança do calendário. Como se fosse algo fácil e apenas uma questão de escolha, não é?
Na chegada de mais um ano novo muitas pessoas têm lista de desejos. Como enlutada por suicídio deixo alguns desejos especiais para esse novo ano que está chegando: que as pessoas sejam mais empáticas com nós enlutados por suicídio, que sejamos menos cobrados para sairmos do luto e seguirmos com a vida, que deixemos de escutar aquelas frases questionadoras como o famoso “mas você não percebeu nada?”, que possamos deixar de nos sentirmos como uma sociedade secreta que tem que se esconder e disfarçar seus sentimentos… Será que estou desejando demais? O que vocês acham? Após mais de uma década como enlutada por suicídio aquela minha racionalidade da minha nova vida que começou com a perda do meu irmão me freia mais uma vez… quero acreditar que esse ano que está chegando será diferente, mas sinto que continuarei vivendo um dia de cada vez e o primeiro dia do ano novo é apenas mais um dia nessa jornada.
Virág Venekey – Sobrevivente, enlutada pelo irmão (@depoisdodiaz) – Fundadora da ABRASES
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