Quem somos nós? O que somos nós? Invalidados, excluídos ou invisíveis? Não. Vivemos em grupo, uma matilha Somos sobreviventes enlutados pelo suicídio Enlutados por filhos, filhas, mães, pais, irmãos, amigos ... Somos os que ficam Atravessam a tragédia sem rumo, mas permanecem Somos os que fazem as lágrimas virarem rio e então transbordar Somos julgados, somos espelhados Em uma sociedade que não permite a morte Então estilhaçamos num sofrimento sem palavras Nos escondemos, não falamos, nos sentimos calados Ou desatamos os nós do sofrimento e queremos falar dos nossos amores Mas ninguém quer ouvir, queremos gritar seus nomes Somos lembrados em vida de tudo o que querem que esqueçamos Mas continuamos, num caminho de pedras, seixos e buracos Não temos equilíbrio, estamos quase sempre à beira do precipício Recuamos e retomamos por outro caminho, tão instável quanto o anterior Tem dias que somos cegados, outros caímos e tantos mais choramos Vivemos no mundo subterrâneo que quer luz Então cavamos e cavamos, mergulhamos nesse buraco, E tentamos desesperadamente encontrar um feixe, uma claridade Ficamos exaustos, sem forças, mas voltamos lá e cavamos Em algum momento vemos uma saída, pequena, inerte Parece inalcançável, mas ela está lá Ela não foge Ela se impõe Só assim percebemos que teremos uma vida Qual? Ainda não sabemos Nosso corpo não é mais o mesmo Temos que achar o que habita em nós agora O que nos move? O que nos acha e faz seguir Vamos andar por aquele caminho instável de antes Os precipícios vão diminuir Mas sempre vamos gritar o nome dos nossos amados Seja para quem quer ouvir seja para quem quer nos calar Não emudecemos nunca Nossa dor é descomunal Mas nosso amor transcende o que for Ele é só nosso, está no nosso calor, vem de dentro Está marcado em brasa em nossa alma
Alessandra Arruda – Mãe enlutada pelo filho Pietro – Fundadora da ABRASES
3 comentários em “Sociedade Secreta dos Sobreviventes Enlutados pelo Suicídio”
Meu nome é Cida França, minha filha partiu mó dia 03/02/2016.
O sepultamento foi no dia de meu aniversário 04/02.
Continuo minha caminhada, sou metade de quem fui… porque a outra metade se foi.
Ela desistiu da vida, por está cansada, cansada,pela falta de amor, sensibilidade social, por ser vuneralvel.
Em uma quarta feira por volta das 01.45, desistiu…
E eu estou aqui, e mais sarcástico, sou psicóloga, cuidei e cuido tanto dos filhos alheios , e minha não aceitou a minha ajuda, porque eu sou mãe enlutada e não psicóloga de minha filha 🥹
Kayla Lucas presente 🕊️
Passei por um momento aterrorizante neste último mês de agosto. Minha filha de 26 anos atentou contra a própria vida e só não teve êxito porque cheguei a tempo de resgata la. Salva la ainda não me salvou….todos os dias sofro ao pensar que dor maltrata minha filhinha contra todo o meu amor doado desde sua gestação e todos os dias da minha vida. Não consigo entender e tenho pavor de novas tentativas. Precisamos de ajuda….quem pode nos ajudar????