Sobre a Exposição Virtual
A fotografia é uma comunicação além das palavras, que pode transmitir emoções, sentimentos e ajudar a contar histórias, retratando os diferentes aspectos cotidianos e neste caso, o luto por suicídio.
O luto por suicídio é uma experiência complexa, repleta de emoções intensas e perguntas sem respostas.
Com o título: “Fragmentos: expressão da dor e do amor no processo de luto” os enlutados foram convidados a usar o celular para fotografar objetos, lugares ou cenas que remetessem ao processo de luto, indicando o quanto a dor e o amor estão contidos nelas.
Cada fotografia retrata como o luto é visto e sentido através desses pedaços capturados pelo olhar de quem o vivencia e eternizados através da câmera do celular.
Os fragmentos visuais são uma forma de expressão que permitiu que as pessoas enlutadas compartilhassem suas histórias e encontrassem voz para as suas emoções.
Cada imagem representa uma história única, uma experiência pessoal que busca transmitir a complexidade do luto por suicídio e com isso, quebrar o silêncio e desafiar o estigma que envolve o tema.
São fotos que mostram momentos de tristeza, de dor, saudade, transformação, reconstrução, esperança e sobretudo de amor, e nos convida para reflexões profundas sobre o luto e a necessidade de expressar essas emoções.
Fragmentos: “Expressão da dor e do amor no processo de luto”, é uma celebração da coragem e da vulnerabilidade, que os enlutados encontraram na fotografia uma maneira de expressar e compartilhar os seus sentimentos mais profundos.
Através desses fragmentos, é possível romper o silêncio e desafiar o estigma que envolve o tema e promover a compreensão, empatia, apoio e cuidado com quem está enfrentando este luto e estimular conversas sobre suicídio, luto e saúde emocional.
Terezinha Maximo: Coordenadores do Grupo de Apoio Nomoblidis - Diretora Presidente da ABRASES - Curadora da Exposição.
Joseval Maximo: Coordenadores do Grupo de Apoio Nomoblidis - Diretor Financeiro da ABRASES - Curador da Exposição.
Terezinha Maximo: Coordenadores do Grupo de Apoio Nomoblidis - Diretora Presidente da ABRASES - Curadora da Exposição.
Joseval Maximo: Coordenadores do Grupo de Apoio Nomoblidis - Diretor Financeiro da ABRASES - Curador da Exposição.
“Minha raiva me assusta, meu medo me assusta, e em algum lugar há também vergonha: por que estou sentindo tanta raiva e tanto medo? Tenho medo de ir para a cama e acordar; tenho medo do amanhã e de todos os amanhãs que virão depois. Sinto-me tomada por um estarrecimento incrédulo com o carteiro que continua passando, l..) e com os alertas de notícias que surgem regularmente na tela do meu celular. Como é possível o mundo seguir adiante, inspirar e expirar de modo idêntico, enquanto dentro da minha alma tudo se desintegrou de forma permanente? O luto expõe novas camadas em mim, raspando escamas dos meus olhos. (já estive em luto antes, mas só agora toquei na sua essência mais pura. Só agora aprendi, ao tatear em busca de seus limites porosos, que não há travessia possível”. (ADICHIE, 2021)
Esse trecho do livro de Chiamanda Adichie, tenta traduzir o intraduzível: a dor de perder um ser amado, a sensação de aniquilamento, de esfacelamento, de sermos roubados e jogados na sarjeta da realidade da efemeridade e da mutabilidade da vida.
Esta dor, quando produzida pela perda de um amor por suicídio, nos joga não apenas na sarjeta, mas no subsolo da vida, num vácuo que nos tira a gravidade, ficamos suspensos internamente, pela dor da perda e pela inexplicabilidade do ato, pela ausência de respostas para o acontecido e externamente por todos que nos colocam num lugar de não-lugar, de excluídos da possibilidade de prantear, pois dizem em cochichos de julgamento e valoração moral, que houve algo de `errado´ conosco e a interdição social pode favorecer pensamentos de ruminação e questionamentos infindáveis.
Se em um luto por outras formas de perda de um ente amado, que não o suicídio, espera-se que haja uma “elaboração” da perda do objeto, segundo a psicanálise, a perda de alguém por suicídio acaba induzindo o eu a uma forte dissociação como defesa para não desmoronar de vez. Por isso, muitas vezes, pensamos que vamos enlouquecer, que ouvimos e vemos coisas que não existem, nossa memória falha, o tempo fica distópico, o pensamento fica em turbilhão e cria a mortificação que entramos e que temos que trabalhar muito para sair…
E, assim, nos tornamos sobreviventes enlutados por suicídio.
Vamos ouvir conselhos, piadas, todo o tipo de preconceito, de julgamento religioso e moral, um certo desprezo pelo nosso futuro, dos que perderam seus entes de modo violento e abrupto e tem de conviver com isso como uma condenação eterna. Claro, tudo embrulhado em gestos de solidariedade e compreensão, que logo se tornam impaciência, descaso, afastamento e mensagens de que o luto já está na hora de terminar.
Ao mesmo tempo, lembrem que somos constituídos pelas nossas narrativas, temos que contar nossa história para elaborar, para dar sentido ao que vivemos, por isso contamos histórias para as crianças, contamos como chegamos até aqui, falamos nossa história quando nos apresentamos a alguém. Então, quando temos nosso luto interditado, silenciado porque incomoda a história de outras pessoas, como fica a nossa história? Qual a repercussão desse impedimento da manifestação do nosso pranto?
E, embora o luto seja uma experiência singular, pessoal e intransferível, que vai se manifestar de forma diferente, de tempo e intensidade diferente para cada pessoa, autores como Parkes dizem que ele será mediado por fatores sociais, culturais e temporais, o que resulta num processo psicossocial, o que significa interagir com outras pessoas durante seu percurso.
Uma das formas que os sobreviventes enlutados por suicídio têm lançado mão para atravessar esse processo são os grupos de apoio onde, entre iguais, irmanados na dor, dividem sentimentos, impressões, sensações e, principalmente, amor. Sim, existe muito amor no luto!
A partir desses encontros, entre várias atividades, nasce a exposição Fragmentos: Expressões de dor e amor no processo de luto”, que usa a fotografia como forma de dar significado e validar tudo o que é sentido a partir de uma perda irreparável.
A comprovação do uso da arte de forma terapêutica já é consolidada, sabemos de todos os benefícios que ela traz e da beleza que produz. Algumas pessoas exploram em sua poética a questão da fala, outras da escrita, das artes plásticas e outros a partir da fotografia. A arte pode ser o lugar onde é permitido entrar em lembranças, em sensações indizíveis, em desejos impossíveis para derramar o sentimento de aniquilamento, causado por situações que deixaram cicatrizes indeléveis em suas vidas.
Cada foto da exposição é profunda, contundente; em certa medida nascem em razão do desamparo ou como resistência direta contra a morte. São o esforço individual de cada enlutado e cada enlutada, na luta que travam pela sobrevivência após a catástrofe que viveram (são sobreviventes enlutados, lembram?) Como já citamos, existem atravessamentos sociais e culturais diante do luto, e também podemos acrescentar um caráter político dessa experiência, no sentido da mensagem que o suicídio traz para a sociedade e do lugar que os enlutados devem ocupar. Cada foto diz sobre esse lugar, que deve ser de respeito, de dignidade, de políticas públicas eficazes, de normalização do luto e da morte, seja ela de que forma for.
Cada foto mantém vivos os nossos amores que se foram, cada foto fala sobre o respeito a dor que sentimos, cada foto diz que a dor é do tamanho do amor.
Viktor Frankl, em seu livro Em Busca de Sentido, diz: ¨Entre as coisas que parecem tirar o sentido da vida humana estão não apenas o sofrimento, mas também a morte. Nunca me canso de dizer que os únicos aspectos realmente transitórios da vida são as potencialidades; porém, no momento em que são realizadas, elas se transformam em realidades; são resgatadas e entregues ao passado, no qual ficam a salvo e resguardadas da transitoriedade. Isso porque no passado nada está irremediavelmente perdido, mas está tudo irrevogavelmente guardado¨.
Aproveite a experiência!
18 de novembro de 2023.
Sobrevivente enlutada pelo irmão Betinho.
Psicóloga - Especialista em Suicidologia - CRP 07/0384
Sobrevivente enlutada pelo irmão Betinho.
Psicóloga - Especialista em Suicidologia - CRP 07/0384
Exposição Virtual
Exposição Virtual
Nome: CAÇAMBA DE ENTULHO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Adelita, mãe do Dharly
Ano: 2023
A dor do luto por suicídio trouxe à tona todas os entulhos do passado que ruminam minha mente sem parar. Coisas que antes eu julgava descartadas hoje me assombram como quem diz: Foi isso que levou a este fim. Por outro lado, vivo a buscar formas de chamar logo o guincho para que leve estes, e só assim não me entregar a esta loucura, e seguir sobrevivendo.
Foto: Adelita, mãe do Dharly – Anápolis – GO
Nome: CAMISA E O BRINQUEDO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Adelita, mãe do Dharly
Ano: 2023
Era a camisa que meu Dharly mais usava, e representa o seu gosto musical e foi o que sempre nos uniu, eu escutava muito Pink Floyd na gravidez dele e ele curiosamente, amava escutar também, nossos momentos foram marcados com muitas conversas sobre música. Já o brinquedo representa o quão amoroso ele era com presentes de coração, ele sempre manteve isso em sua escrivaninha como lembrança de sua infância.
Foto: Adelita, mãe do Dharly – Anápolis – GO
Exposição Virtual
Nome: LEMBRANÇAS
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Catarine, mãe da Fernanda
Ano: 2023
Saudades da infância, onde tudo era sonho, fantasia a imaginação fluía com alegria e esperança num lindo porvir.
Um mundo mágico em que a felicidade prevalecia.
Quem diria.
Foto: Catarine, mãe da Fernanda – Ribeirão Pires – SP
Nome: VAZIO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Catarine, mãe da Fernanda
Ano: 2023
O vazio da alma.
A dor que dilacera o coração de quem fica.
A partida inesperada.
Apenas uma doce lembrança e a certeza do nunca mais.
Foto: Catarine, mãe da Fernanda – Ribeirão Pires – SP
Exposição Virtual
Nome: ABANDONO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Neste local funcionava um restaurante, e hoje está abandonado. No luto é comum o abandono pessoal. Ficamos tão abalados com nossa perda que o cuidado com nós mesmos fica prejudicado.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: A SOMBRA
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Aparece quando há luz, é como o amor por quem se foi, sempre está ali com a gente, mesmo que não podemos tocar, sentimos que está sempre presente.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: ENTULHO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Este entulho de construção representa como me sinto após a perda, destruída, no chão. Com o luto precisamos começar a vida sem quem partiu, do zero, tijolo por tijolo. Às vezes tudo ruiu, e começamos novamente tijolo por tijolo. É uma tarefa constante e diária.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: FLOR BRANCA
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Quando minha filha faleceu, tive que escolher uma roupa para ela vestir no caixão, não tive dúvida em pegar o vestidinho branco que ela adorava. A partir disso, sempre que vejo flor branca associo a ela!
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: FLORES
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Quando a planta floresce, ela passa pelo maior estresse fisiológico. Assim como no luto precisamos extrair de nós algo de bom para continuar a vida. Precisamos buscar esperança.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: LUZ
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Essa é uma luminária de jardim. Ela representa a luz, buscamos a luz nessa escuridão que é o luto.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: SOBRA
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
A casa possui apenas paredes, não há nada além disso, não há janelas, portas, telhado ou algum móvel, há um vazio. É o que o luto faz conosco, nos tira tudo, ficamos apenas com a sobra, tudo é arrancado, esperança, sonhos, desejos, um futuro mas ainda assim ficamos de pé.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Nome: TESOURO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Crys, mãe da Mariana
Ano: 2023
Onde está o teu tesouro, aí está o seu coração. (Mateus 6:21). Caneca que ganhei de minha filha na infância, com dedicatória.
Foto: Crys, mãe da Mariana – Goiânia – GO
Exposição Virtual
Nome: BILHETE
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Dulcenéa, mãe do Rafael
Ano: 2023
Encontrado por acaso que lembra de um tempo que tinha muito amor, encontrá-lo agora faz lembrar que o amor salva.
Foto: Dulcenéa, mãe do Rafael – Rio de Janeiro – RJ
Exposição Virtual
Nome: CARROS / JAZIGO
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Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Gilmara Nascimento, esposa do Edilson Nascimento
Ano: 2023
Coleção de carros que ele gostava e a letra de seu nome.
Sempre o mantenho florido, cuidado assim como foi em vida.
Foto: Gilmara Nascimento, esposa do Edilson Nascimento – João Pessoa – PB
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Nome: GIRASSOL
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Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Joseane, mãe da Vitória
Ano: 2023
Nasceu em uma jardineira e não abriu por inteiro e como símbolo do luto que nos lembra em busca da luz.
Foto: Joseane, mãe da Vitória – Lagoa da Prata – MG
Nome: JANELA
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Joseane, mãe da Vitória
Ano: 2023
A janela que marca a dor da morte da minha filha é a mesma que ventila e traz luz.
Foto: Joseane, mãe da Vitória – Lagoa da Prata – MG
Nome: PASSOS
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Joseane, mãe da Vitória
Ano: 2023
O tênis ainda está sujo, e parece que está dando passos, continua o ciclo em outro plano.
Foto: Joseane, mãe da Vitória – Lagoa da Prata – MG
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Nome: PÔR DO SOL
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Patrícia, mãe do Nícolas
Ano: 2023
Meu príncipe amava a praia, e o pôr do sol seguindo o caminho das águas e deixar ir.
Foto: Patrícia, mãe do Nícolas – Blumenau – SC
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Nome: ESCADARIA DA VIDA
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Renata, companheira da Michel
Ano: 2023
Lembrança de dias felizes, subo e desço os degraus das dores.
Foto: Renata, companheira do Michel – Baldim – MG
Exposição Virtual
Nome: CACTO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Terezinha, mãe da Marina
Ano: 2023
Desde a morte da minha filha, sinto como um cacto, as pessoas têm medo de se aproximar e se machucar nos espinhos que fui adquirindo e fiquei disforme, mas cresço no terreno árido e ainda posso florescer.
Foto: Terezinha, mãe da Marina – São Bernar do do Campo – SP
Nome: CAMINHO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Terezinha, mãe da Marina
Ano: 2023
O luto para mim é um caminho complexo e desconhecido, envolto em sombras cinzentas e cheio de buracos, um terreno acidentado que preciso percorrer.
Foto: Terezinha, mãe da Marina – São Bernar do do Campo – SP
Nome: TRONCO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Terezinha, mãe da Marina
Ano: 2023
O tronco cortado, ainda com as suas raízes e um pequeno galho verde insistindo em sobreviver, me representa. Fui podada, porém me nutro do que um dia eu fui, aceito que as coisas não são como antes e mesmo fragilizada, busco forças para viver.
Foto: Terezinha, mãe da Marina – São Bernar do do Campo – SP
Nome: UNO
Exposição Virtual
Fragmentos: Expressão de Dor e Amor no Processo de Luto
Artista: Terezinha, mãe da Marina
Ano: 2023
Quando a morte aconteceu tive a impressão de ser a única a passar por isso, fiquei rasgada, mutilada, jogada. Todos continuavam suas vidas e eu fiquei paralisada, como uma carta fora do baralho.
Foto: Terezinha, mãe da Marina – São Bernar do do Campo – SP
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